
Buraco Negro “bamboleante”: astrônomos observam um raro efeito previsto por Einstein
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Ilustração conceitual criada com auxílio de IA
Buraco negro “bamboleante”: astrônomos observam um raro efeito previsto por Einstein
Astrônomos conseguiram observar um fenômeno raro envolvendo um buraco negro supermassivo: um movimento oscilatório em seus jatos relativísticos, descrito como um “bamboleio”. A observação fornece uma das evidências mais claras já registradas de um efeito previsto pela Teoria da Relatividade Geral, formulada por Albert Einstein em 1915.
O fenômeno foi identificado a partir da análise detalhada de jatos de matéria extremamente energéticos que se estendem por milhares de anos-luz a partir do núcleo de uma galáxia distante.
Buracos negros e seus jatos relativísticos
Buracos negros supermassivos habitam o centro da maioria das galáxias conhecidas, incluindo a Via Láctea. Embora não emitam luz diretamente, eles influenciam de forma intensa o ambiente ao seu redor.
Quando grandes quantidades de gás e poeira são atraídas pela gravidade de um buraco negro, formam um disco de acreção — uma estrutura achatada, quente e em rápida rotação. Parte dessa matéria não é engolida e acaba sendo canalizada ao longo do eixo de rotação do buraco negro, formando os chamados jatos relativísticos.
Esses jatos normalmente mantêm uma direção estável no espaço. No entanto, neste caso específico, os astrônomos observaram que a orientação do jato mudava lentamente ao longo do tempo.
O movimento de precessão observado
Ao analisar dados coletados ao longo de vários anos, os pesquisadores perceberam que o jato apresentava um movimento de precessão, semelhante ao movimento de um pião que gira enquanto inclina seu eixo.
Esse comportamento indicava que o disco de acreção não estava fixo em uma única orientação, mas sofria uma mudança gradual em sua inclinação — algo que exigia uma explicação além dos modelos tradicionais.
O efeito Lense–Thirring e o arrasto do espaço-tempo
A explicação para o fenômeno está em um efeito relativístico conhecido como efeito Lense–Thirring, previsto a partir da Teoria da Relatividade Geral.
Segundo Einstein, objetos extremamente massivos e em rotação não apenas curvam o espaço-tempo, mas também podem arrastá-lo ao seu redor. Esse fenômeno, conhecido como frame dragging (arrasto de referenciais), faz com que o espaço-tempo próximo ao objeto seja literalmente torcido.
No caso de um buraco negro em rápida rotação, esse arrasto é intenso o suficiente para alterar a orientação do disco de acreção. Como os jatos relativísticos estão alinhados com esse disco, eles acompanham essa mudança, resultando no movimento oscilatório observado.
Por que esse efeito é tão difícil de detectar?
Embora o efeito Lense–Thirring já tenha sido medido em ambientes menos extremos, como em satélites artificiais ao redor da Terra, observá-lo nas proximidades de um buraco negro é um grande desafio.
Isso ocorre porque:
Buracos negros estão a distâncias cosmológicas
As mudanças de orientação são sutis e acontecem ao longo de anos ou décadas
São necessárias observações contínuas e instrumentos extremamente precisos
Por esses motivos, registros diretos desse tipo de precessão em jatos relativísticos são considerados raros.
Observações de longo prazo e tecnologia avançada
A descoberta foi possível graças à combinação de dados obtidos por radiotelescópios e observatórios capazes de mapear com alta precisão a estrutura dos jatos ao longo do tempo.
Ao comparar imagens feitas em diferentes períodos, os cientistas conseguiram reconstruir o movimento gradual do jato e descartar outras explicações possíveis, como interações com o meio interestelar ou instabilidades internas aleatórias.
Implicações científicas da descoberta
Essa observação tem implicações importantes para a astrofísica moderna. Ela ajuda a:
Confirmar previsões fundamentais da Relatividade Geral em regimes extremos
Estimar a velocidade de rotação do buraco negro
Compreender melhor a formação e a estabilidade dos jatos relativísticos
Investigar a influência dos buracos negros na evolução das galáxias
Buracos negros supermassivos desempenham um papel central na dinâmica galáctica e na regulação da formação de estrelas, tornando esse tipo de estudo essencial para compreender o Universo em grande escala.
Um laboratório natural da física extrema
Mais de um século após Einstein formular sua teoria, o Universo continua oferecendo cenários naturais onde suas previsões podem ser testadas diretamente.
O “bamboleio” observado nesse buraco negro mostra que, mesmo nas regiões mais extremas do cosmos, as leis da física continuam se manifestando de forma consistente e observável.
Cada nova descoberta como essa amplia nossa compreensão do Universo e reforça o papel da ciência como ferramenta para explorar os limites da realidade física.
Fonte:
Wikipedia: Efeito Lense-Thirring.
NASA: Frame-dragging e buracos negros supermassivos.
Nature Astronomy: Observação de precessão em jatos relativísticos.
Space.com: Buraco negro bamboleante confirma Relatividade Geral.
SciELO: Arrasto de frame em buracos negros.
BBC Ciência: Einstein previsto em buraco negro oscilante.


