Astrônomos flagram colisões gigantes fora do Sistema Solar que transformam planetas em poeira

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Fabricio Jr

12/19/20253 min ler

Imagem composta obtida pelo Telescópio Espacial Hubble revela o anel de detritos ao redor da estrela Fomalhaut e duas nuvens de poeira, identificadas como cs1 e cs2, destacadas por círculos tracejados. O aparecimento da cs2 em 2023 fornece evidências de uma colisão extremamente energética entre grandes corpos. A luz da estrela central foi propositalmente ocultada para realçar as estruturas mais tênues do disco.

— Crédito: Science / Divulgação

Astrônomos observaram pela primeira vez evidências diretas de colisões violentas entre grandes corpos em um sistema planetário fora do Sistema Solar. As observações, realizadas ao longo de quase duas décadas com o Telescópio Espacial Hubble, revelaram enormes nuvens de poeira geradas por impactos catastróficos no disco de detritos que circunda a estrela Fomalhaut, localizada a cerca de 25 anos-luz da Terra.

Essas colisões produzem estruturas luminosas temporárias que lembram verdadeiros “fogos de artifício” cósmicos — sinais de processos extremamente energéticos que moldam sistemas planetários jovens e em evolução.

Um registro raro de eventos extremos

Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, analisaram imagens captadas entre 2004 e 2024 e identificaram rastros claros de pelo menos duas grandes colisões ocorridas no disco circumstelar de Fomalhaut. Os resultados foram publicados na revista científica Science e descrevem a formação de extensas nuvens de poeira resultantes do choque entre planetesimais — corpos rochosos que podem atingir dezenas de quilômetros de diâmetro.

Segundo os cientistas, esses eventos indicam que colisões desse tipo podem ser mais comuns do que se imaginava, especialmente em sistemas planetários jovens, onde a dinâmica gravitacional ainda é intensa.

Quando um planeta vira poeira

Um dos principais desdobramentos do estudo foi a revisão de uma descoberta anunciada em 2008. Na época, um ponto brilhante observado no disco de Fomalhaut foi interpretado como um exoplaneta, batizado de Fomalhaut b. Novas análises, no entanto, indicam que aquele sinal não era um planeta, mas sim uma nuvem de poeira em expansão, formada após uma colisão massiva.

Esse tipo de resíduo pode imitar o comportamento de um planeta por anos, refletindo a luz da estrela hospedeira antes de se dispersar lentamente no espaço. Isso mostra como eventos catastróficos podem confundir observações e desafiar a identificação de exoplanetas.

lustração artística que representa o momento do impacto entre dois planetesimais no disco de detritos que circunda a estrela Fomalhaut, evento capaz de gerar vastas nuvens de poeira observáveis por telescópios espaciais.

— Crédito: Science / Divulgação

Corpos maiores que o asteroide dos dinossauros

Com base no brilho e na extensão das nuvens de poeira observadas, os pesquisadores estimam que os corpos envolvidos nas colisões tinham ao menos 60 quilômetros de diâmetro — cerca de quatro vezes maiores que o asteroide associado à extinção dos dinossauros na Terra.

Esses impactos fazem parte de uma fase comum na evolução de sistemas planetários, quando restos do processo de formação planetária colidem com frequência. De acordo com os cientistas, o que está sendo observado em Fomalhaut pode ser semelhante ao que ocorreu no Sistema Solar quando ele tinha menos de um bilhão de anos.

Um alerta para a busca por exoplanetas

O estudo também traz implicações importantes para futuras missões espaciais dedicadas à caça de exoplanetas. Telescópios cada vez mais sensíveis, como o planejado Habitable Worlds Observatory, precisarão distinguir cuidadosamente entre planetas reais e nuvens de poeira produzidas por colisões recentes.

“Nem todo ponto luminoso observado ao redor de uma estrela é necessariamente um planeta”, alertam os pesquisadores. Eventos desse tipo podem gerar falsos positivos se não forem analisados com cautela.

Metodologia, limites e próximos passos

A pesquisa se baseou na observação direta de imagens do Hubble ao longo de 20 anos, permitindo acompanhar a evolução temporal das nuvens de poeira. Embora essa abordagem ofereça um registro raro de eventos dinâmicos em sistemas planetários distantes, os cientistas destacam limitações importantes, como a ausência de imagens contínuas e a dependência de modelos físicos para estimar o tamanho e a frequência das colisões.

Mesmo assim, o estudo representa um avanço significativo na compreensão dos processos violentos que moldam sistemas planetários e reforça a ideia de que a formação e destruição de mundos é um fenômeno comum no Universo.

Fonte:
NASA Hubble: Observações de colisões em Fomalhaut.
Revista Science: Colisões gigantes no disco de detritos de Fomalhaut.
Universidade da Califórnia, Berkeley: Nuvens de poeira provenientes de impactos de planetesimais.
Space.com: Fomalhaut b era poeira resultante de uma colisão, não um planeta.
Astronomy.com: Hubble testemunha colisões massivas além do Sistema Solar.
Phys.org: Evidência direta rara de colisões gigantes em sistema exoplanetário.
BBC Science: Colisões que destroem planetas são detectadas pelo Hubble em Fomalhaut.

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